quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Isabel Coixet e suas preciosidades cinematográficas


Sabe qdo uma coisa - ou várias - é tão especial para vc, q vc não se atreve a querer colocar em palavras todas as emoções que aquilo te desperta?

Alguns filmes, músicas, poemas, são assim para mim. Fortes demais para serem descritos, debatidos, falados. Essas pequenas jóias são tão íntimas, que mesmo aqui, onde eu rasgo o verbo falando dos meus sentimentos mais profundos, muitas vezes não consigo achar uma maneira sincera e sutil o bastante de compartilhá-las. Como se não fosse nunca fazer jus aos maremotos de emoções q elas nunca falham em me despertar.

Como todo mundo que me conhece sabe, eu amo cinema, e sou capaz de assistir "Encouraçado Potenkin" com a mesma gana em que devoro um saco de pipocas assistindo o novo "Harry Potter". Gosto de filmes trash de terror, de clássicos insubstituíveis (essa semana revi "O Pecado mora ao lado" com a eterna Marilyn e "Ladrão de casaca", de Hitchcock, maravilhosos como sempre!), e de boas e velhas comédias românticas, para adoçar a vida q anda meio amarga. Se alguém aqui nunca assistiu "Harry e Sally - feitos um para o outro" para espantar alguma ressaca emocional, eu recomendo!

Mas confesso que mesmo amando filmes, ando meio calejada, e anda difícil algum me emocionar de verdade. Mas quando eu acho que minha sensibilidade em relação a a sétima arte anda perdida, ou minha sensibilidade para comigo mesma anda em falta, eu recorro a duas jóias preciosas que nunca falham em lavar minha alma e renovar tudo - minha fé no cinema unusual, minha fé nas emoções humanas, e quem diria, minha fé nos próprios seres humanos e na nossa eterna capacidade de enfrentar qualquer coisa, e porque não, recomeçar.

Estes filmes são "A Vida Secreta das Palavras" e "Minha Vida Sem Mim", ambos da diretora espanhola Isabel Coixet. Ambos lidam com a dor e com a superação de maneira simples, despojada, e acima de tudo, sincera. Ambos contam com a excelente Sarah Polley como protagonista, e têm na trilha sonora e na fotografia simples e naturalista pontos fortes. E acima de tudo, ambos falam de amor, de conexões humanas, falam do impacto que podemos ter na vida dos outros. São sem sombra de dúvida, meus filmes favoritos.

Ontem, em um dia complicado, frustrante e decepcionante, decidi perder umas horas de sono e ficar até tarde assistindo "Minha Vida...",e depois de algumas lágrimas derramadas, consegui dormir leve, pensando que a vida, apesar de êfemera, depende apenas de nós mesmos para ser marcante. Que marca você gostaria de deixar na vida das pessoas que te cercam? Essa é a pergunta que fica para mim, toda vez que termino de assistir o filme. E acreditem, é uma pergunta e tanto.

"A Vida Secreta das Palavras", que talvez seja o filme que mais me impactou em todos meus 27 anos, fala da capacidade de reconstrução que o ser humano possui, fala de novos inícios, da superação de dores absurdas, e da permissão que podemos nos dar - ou negar - para sermos felizes. Fala acima de tudo, do que não precisa ser dito, mas apenas sentido. E de como essas coisas caladas podem mudar tudo. Nas palavras da diretora:

“Words –like shoals of fish- team around in our heads and crowd against our vocal chords, fighting to get out and be listened to by others. And sometimes they get lost on the journey from head to throat. This is about those lost words that wander for a long time in a limbo of silence (and misunderstandings and errors and past and pain) and then one day come pouring out, and once they start nothing can stop them.”

Depois de um ano vivendo às voltas com o não dito, eu não posso deixar de me comover profundamente com essas situações, e embora o drama dos personagens seja algo impensável para a minha realidade, a sensação de aprisionamento é familiar, muito familiar.

Hoje recomendei este filme para alguém, e decidi vir aqui falar dessas pequenas preciosidades que enriquecem minha vida. Achei que não teria o que falar, que os sentimentos que eles despertam em mim são tão profundos que não sairiam, mas quem diria.... um post gigantesco depois, aqui estou eu, como sempre!

Mas vale ainda deixar o link para um blog maravilhoso, e um texto melhor ainda sobre a diretora (q trabalha nesses dois filmes com a produção dos irmãos almodovar) e sobre essas jóias do cinema.

"... A vida secreta das palavras ... que não é só uma história de amor maravilhosa, é um filme sobre a solidão, sobrevivência, sobre a (in)capacidade de seguir em frente, porque afinal a vida continua. Continua, mas continua como? O filme é genial. Genial desde os letreiros no comecinho do filme, na formação de palavras como love, fear, life, scream, etc., em cada nome que surge na tela. Genial do começo ao fim. Isabel Coixet é a diretora dos detalhes das cenas cotidianas da vida. E te deixa tão íntimo da situação, que o filme parece estar acontecendo bem ali na casa do seu vizinho de porta, de tão próxima e familiar que ela fica, mesmo boa parte do filme acontecendo numa plataforma de petróleo em alto mar. O tempo de cada cena, o silêncio a mais que sobra e é filmado depois de um diálogo – quase constrangimentos, quase vida real. "

Leiam, assistam, vivam. Vale a pena.



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