quinta-feira, 9 de junho de 2011

Amor é...

Brincadeira divertida do Pensar Elouquece, usada para propaganda, mas ainda assim legal. Fui conversar com meu amigo google, e vi que ele soube definir as coisas muito melhor do que eu ultimanente, hehehe.....
Na verdade, a frase acima, reza a lenda, é de ninguém menos que o bardo, William Shakespeare. E vamos confessar q ele sabia das emoções humanas como ninguém, certo??

A definição de romance então.... Super propícia para o dia dos namorados. Por isso q eu vou é comemorar com um jantar regado a muito vinho, com um bando de amigas solteiras de cia.!!!! ;)

Raízes

Nossas raízes são algo complicado. Ao contrário das árvores, que nascem e morrem sabendo do local ao qual pertencem, nós, humanos (até que nos digam o contrário), temos este desapego alimentado por nossos pézinhos móveis, essa quase compulsão de vagar sem rumo e de querer sempre descobrir até onde nossas pernas aguentam nos levar.

Algumas pessoas porém, por medo ou tradição, mantêm suas raízes fincadas, muitas vezes em uma corda elástica que se estica por longas distâncias, muitas vezes em raízes sólidas que não permitem muitos movimentos impensados. Talvez por medo de perder sua identidade – que nada mais é do que a identidade construída por antepassados a muito esquecidos – ou ainda por apreciarem a sensação de conforto e de pertencimento que um grupo étnico e cultural proporciona, muitos abraçam suas origens de maneira a não as perderem de vista, onde quer que seus pézinhos afoitos os levem. E não existe exemplo melhor disso do que os gaúchos.

Se ao redor de nosso país e do mundo vemos pessoas se identificarem através de suas heranças imigratórias, brandarem a altos brados que são italianos, alemães, poloneses (mesmo sendo a 3ª ou 4ª geração nascida em solo diferente), os gaúchos evocam sua origem regional, suas tradições criadas ali mesmo, naquela terra onde suas raízes permanecem indiscutivelmente enterradas. Por mais que tenham suas origens na Espanha, Itália, Alemanha, os gaúchos são antes de mais nada, gaúchos. Carregam consigo as lembranças da sua terra, o bairrismo exacerbado, esse orgulho tão mal interpretado como separatista, da mesma maneira viciada com a qual enchem suas intermináveis cuias de chimarrão. Todo gaúcho é tradicionalista em algum nível. Por mais que não vista suas bombachas e saia trotando em bailões por CTGs a fora, nunca conheci um gaúcho – morador ou não do RS – que não sinta os olhos marejados ao ouvir algum fandango ou milonga que cante o pampa e faça lembrar das paragens do Rio Grande amado.

Por isso mesmo, eu sempre adorei ser paranaense. Nascida e criada em uma família de gaúchos “expatriados”, sempre tive uma relação de amor e ódio com o Rio Grande do Sul. Se Porto Alegre era o destino das minhas tão aguardadas aventuras (também conhecidas como férias escolares) na infância, era também o local daquelas tradições esquisitas, daquela música chata, daquele povo que mais falava do passado do que do presente. Eu, que sempre caí de desamores pelo campo, me sentia praticamente em uma excursão alienígena toda vez que visitava meu falecido avô em seu sítio no interior de Passo Fundo. Mais do que isso, não entendia o orgulho estampado na cara daquela gente simples, a alegria descabida dos porto alegrenses em cantar coisas sem sentido em rodas ao redor de um fogo de chão, não apreciava o sabor do mate amargo que aos meus olhos, carregava a baba de todas aquelas pessoas que eu não compreendia.

Mais tarde, o Rio Grande do Sul e seus gaúchos se tornaram para mim, sinônimo de falastrões matutos e de uma empáfia que me incomodava a alma. Fosse para negar a grandiloqüência do meu pai, fosse por medo de ficar aprisionada em uma tradição que eu não identificava como minha, sempre tive verdadeira ojeriza da figura tradicionalista do gaúcho, e de tudo que ele representava. Parte disse sentimento era cultivado por minha própria mãe que, gaúcha de nascença, havia deixado para trás o Rio Grande do Sul com a mesma felicidade com a qual deixou para trás uma infância não tão feliz. A outra parte disso tudo, hoje eu percebo, vinha de uma precoce “urticaria” emocional, alimentada por incontáveis mudanças, que me faziam temer o desconhecido, que neste caso, era a permanência, a tradição, as tais origens. Pertencer a algum lugar, era estar aprisionada lá. Era ter definido meus gostos, comportamento, ter castradas minhas possibilidades. Ao contrário deste povo estranho que cultivava por gerações essas raízes incompreensíveis, eu queria meus pés livres, minha mente em tela branca, queria fugir do que era predestinado e encontrar uma identidade que de certa forma negasse tudo isso que eu considerava parte de um universo datado, machista, restrito.

Com um certo espanto e incredulidade, eu observei meu irmão fazer o exato caminho oposto. Paranaense de nascença, talvez para honrar o pai ou simplesmente por gosto, ele sempre se identificou com essa tal identidade gaúcha e depois de adulto, ao ir morar em Porto Alegre, assumiu definitivamente a postura, sotaque e tradições de lá. Colorado doente, viciado em chimarrão, vários “bah” e “tris” ao dia, hoje ele se considera um expatriado saudoso do seu Rio Grande querido. Ninguém nem suspeitaria que ele nasceu em Clevelândia, tamanha a gauchez q carrega consigo.

Eu, ao contrário, permaneci por muitos anos com esta verdadeira fobia gaudéria. E como tudo que é ruim pode piorar, depois de uma temporada na Bahia, por pura necessidade, acabei indo morar em Porto Alegre, por meros seis meses, que serviram para piorar todos os sentimentos já cultivados. Se aquilo já não me agradava antes, as experiências familiares e pessoais que eu tive neste curto intervalo de tempo fizeram com que eu negasse o pouco que me restava desta tradição, e não voltasse a entrar em solo gaúcho por mais de 7 anos. 7 longos anos.

Mas como a vida é cíclica e o universo é bizarro, no final de semana passado me peguei entrando em um avião apertado rumo à Porto Alegre para, pasmem, assistir um show de um cantor que embora não seja necessariamente tradicionalista, é ferrenho defensor do pampa amado, trovador 'mui apto' das querências e de todos aqueles elementos que sempre me soaram quase depravados. Eu poderia me esconder atrás da desculpa de que aquilo era trabalho, que aquilo tudo fazia parte de um projeto, mas durante a terceira ou quarta milonga do show, onde Vitor Ramil cantava sobre a felicidade de termos o chimarrão, eu subitamente me dei conta de onde estava, e pior, de que estava genuinamente gostando. Não só do show, mas da viagem, da cidade, da família, do reencontro com algo que eu nem sabia que havia perdido. Talvez por, durante o ano passado, já ter feito às pazes com a tal urticaria emocional, já ter compreendido, depois de muita análise – da auto e da paga – que essa necessidade de liberdade era na verdade fuga, talvez por tudo isso, eu tenha podido abraçar todos esses sentimentos conflituosos e me permitir relaxar e curtir aquele momento.

Se a meses eu já me via envolvida com a tal “Estética do Frio”, com esta identidade compartilhada entre gaúchos, uruguaios e argentinos, eu disfarçava dizendo para mim mesma que o que realmente me interessava nisso tudo, eram os hermanos, a música latina da qual eu sempre fui tão fã. Mesmo depois de perceber, ler e estudar que tudo na verdade, vinha do mesmo lugar e tinha a mesma origem – e de novo, tudo volta às origens – eu ainda não havia me permitido apreciar a parte gaúcha disso tudo. E então, naquele momento, no meio de um shows mais bonitos que eu já presenciei, em meio a tios, vó, primas, em meio ao Rio Grande do Sul que eu por tanto tempo neguei, eu me senti, pela primeira vez na vida, como parte daquilo tudo. Como se algum gene adormecido tivesse finalmente acordado e se sentido subitamente, em casa.


*Esse texto foi escrito a um ano atrás, qdo em maio de 2010, eu fui à Porto Alegre assistir o show do Vitor Ramil para que, junto com Luciano Coelho, pudéssemos fazer um primeiro contato com ele a respeito do projeto "A Linha Fria do Horizonte". De lá para cá, muita coisa aconteceu, e a melhor delas, é que conseguimos financiamento para começar a tirar o projeto do papel. Semana passada, voltamos a Porto Alegre para assistir - e dessa fez gravar uma entrevista - Daniel Drexler, um uruguaio que é figura essencial nessa coisa toda da Estética do Frio/Templadismo/Subtropicalismo. Novamente, ao chegar na cidade, fui tomada de assalto por algo inédito: pela primeira vez em minha vida, achei a cidade bonita. A vi com outros olhos, olhos de quem sabe onde está, de quem reconhece as ruas e as pessoas, mas de quem tbem não tem nada contra aquele lugar, aquele espaço. Foi libertador. E bom, muito bom.
;)