terça-feira, 19 de maio de 2009

Memory land, Agatha Christie e uns moçoilos cabeludos brigando de espadas...



Existe uma grande verdade na minha vida - a de que eu detesto aparecer em frente às câmeras, afinal a mais de dez anos desisti do teatro e pensei em fazer cinema para ter o conforto de ficar atrás das lentes, onde tudo é mais seguro e discreto, quase imperceptível...

Mas como o Universo é engraçadinho, e como a gente faz qquer coisa por quem a gente gosta, ontem me vi concordando em encarar uma câmera de frente, por dois minutos apenas, mas ainda assim um tormento do qual eu procurava escapar a dias. Mas os olhinhos simpáticos e jovens que eu tanto admiro e gosto me pediram com jeitinho, e quando eu vi, lá estava eu, sentada diante da nossa horta, sendo examinada por uma lente curiosa. O tema, não poderia ser pior - travessuras de criança. Não, sobre isso eu não teria nada sobre o que falar, afinal, como já foi dito, eu nasci velha, e não me recordo de nenhuma grande aventura/travessura vivida em meus dias de criança em que eu insistia em viver como adulta (embora minha mãe provavelmente se lembre de vários momentos "peculiares").

Não, esse tema não serviria. Então surgiu outro, sobre o qual eu nunca havia tido problemas para falar - literatura. Ahhh, literatura, sobre isso sim eu poderia falar, sobre a magia dos livros, o universo incrível e fantásticos para o qual somos transportados através daquelas linhas impressas que incitam, motivam, apaixonam. Literatura era um tema seguro, sobre o qual eu acreditava ter um grande repertório, pelo menos grande o bastante para impressionar adolescentes de 15 anos.... Mas eu não contava com o branco imenso e vazio que se apoderaria do meu cérebro naquele momento, o vácuo de informações interessantes ou precisas sobre algo que eu carrego tão junto ao peito...

E então, sem que eu saiba como - talvez através de um segundo de identificação com as crianças ainda crianças a minha frente - tudo que eu conseguia lembrar, era dos livros que lia quando tinha a idade deles, ou até menos, muito menos.... Por algum motivo bizarro eu recordei da minha coleção de livros da Agatha Christie, talvez a única coleção que eu já tenha tido, e que me transformou por muito tempo em rata de sebos, guiada pela ânsia de ter todos os seus livros publicados em português...
Engraçado como mesmo falando tanto em coleções e objetos estimados como temos falado nos últimos tempos, essa pequena preciosidade do meu passado ainda permanecesse enterrada - talvez posta para dormir no dia em que eu, sem muitos motivos, decidi me desfazer dos mais de 60 livros que possuía, sem olhar duas vezes ou pensar novamente neles.
E não, eu não vou fazer nenhuma paralelo entre essa atitude e a maneira como eu lido com relacionamentos e pessoas na minha vida.

Enfim.... "Qual seu livro preferido?" "Hã...."
E nada de Antologia poética do Vinícius, nada dos sonetos de Shakespeare que abriram um universo de emoções e apuro intelectual para mim, nada da poesia que se transformou em gênero favorito, nada de Fernando Pessoa, Quintana, nem mesmo do meu favorito - Neruda, como pude esquecer de ti?? Nada nem mesmo de Dan Brown ou Irvin D. Yalom, ou em último caso, até Paulo Coelho. Nada. O que me veio a cabeça - a única coisa que pareceu ressoar dentro do vazio craniano instalado - era a rainha do mistério (socorro, eu acho até mesmo que usei esse termo!) com quem eu conheci o mundo, e que preenchia meus dias durante meus 10, 11, 12 anos.... Engraçado que nem mesmo Conan Doyle, que abriu o camiho dos assassinatos, venenos e crimes perfeitos para mim - eu era apaixonada pelo meu querido Sherlock - surgiu em minha mente abotoada... Veio apenas a velha dama britânica, e alguns murmúrios sobre gostar de livros sobre religião oriental e política... Nessa altura falar de livros sobre budismo e relações internacionais só ia piorar tudo mesmo...

Aha! Mas pelo menos de uma coisa interessante, meu cérebrozinho deu conta de lembrar. "Indique um livro". Hum... E não mais do que de repente, eu sou tomada pela nostalgia da lembrança do meu livro verdadeiramente favorito durante a adolescência. "Os três mosqueteiros", eu falo sem titubear. Um clássico dos clássicos, uma aventuda de capa e espada cheia de romance, lealdade, e acima de tudo, amizade.... Devia ser obrigatório para todos os jovens, para provar que literatura escrita a mais de cinco minutos não precisa ser chata. Ufa! Pelo menos ao Alexandre Dumas eu fiz jus....


Viu o pq eu detesto aparecer em frente às câmeras? A gente esquece o Neruda de nossas vidas, e tudo que nos ocorre são assassinatos e lutas de espadas.... Viu o que dá não ter infância??

2 comentários:

Bel disse...

... falávamos em caminhos tortos. E olha só que caminho mais cheio de curvas. Adorei o relato ... a relação com essa lente poderosa nos congela...por vezes... sinto isso em mim... também. Sabe .... fiquei pensando sobre tuas leituras e como tudo isso te compõe. Teu gosto refinado ... tua emoção emblemática ... tua objetividade diretiva.
Tivestes uns bons minutos inesperados pra te distrair ... e isso é presente. Sempre é ... presente.
Um beijo, minha querida.
Bel.

Anônimo disse...

Olá, Chris. A propósito de Agatha Christie e outros temas afins, convido você e a todos para conhecerem alguns blogs de minha autoria...

A Casa Torta: O Mundo de Agatha Christie
http://acasatorta.wordpress.com

Cinema é Magia
http://cinemagia.wordpress.com

Somente Boas Notícias
http://somenteboasnoticias.wordpress.com

Televisão é Magia
http://telemagia.wordpress.com

Um abraço e sucesso,
Tommy Beresford