domingo, 1 de março de 2009

John Coltrane


"Não poucos medíocres julgaram poder imitar Coltrane. Ora, tocar como ele exige uma fé enorme.Coltrane era puro, generoso, gostava do mundo; seu rosto espelhava calma e franca formosura.Muitos há que tocam e agem como ele...Mas falta-lhes a mesma fé."

John Coltrane é o saxtenorista mais cultuado do jazz. Nascido em Hamlet, Carolina do Norte, e neto de um pastor evangélico, John William Coltrane cresceu em High Point e em New Jersey. Começou a carreira tocando em big bands, após a Segunda Guerra. De 1955 a 1960 fez parte do histórico quinteto-sexteto de Miles Davis, tendo participado de discos memoráveis como Cookin', Relaxin', Steamin', Workin', Milestones e Kind of Blue. Essa foi a sua primeira grande fase, musicalmente falando, embora tenha sido um período difícil em sua vida pessoal, devido a um vício em heroína adquirido no final dos anos 40. (Esse problema foi o motivo de Miles o demitir e recontratar duas vezes, em 1956 e 1957.) Enquanto estava com Davis, também fez várias gravações como sideman, e em 1957 fez sua primeira gravação como líder.

Em 1960, após deixar o conjunto de Miles, Coltrane iniciou uma nova fase, liderando um quarteto com McCoy Tyner ao piano, Jimmy Garrison ao contrabaixo e Elvin Jones à bateria, e iniciou uma ousada e inédita exploração do espaço sonoro jazzístico. Coltrane desenvolveu um estilo absolutamente próprio, onde predominavam as chamadas sheets of sound (folhas ou camadas de som), que se compunham de longas frases de notas rápidas tocadas em legato. Coltrane embarca numa redicalização da harmonia que o leva à beira do atonalidade. Também fragmenta e desconstrói os temas, deixando-os quase irreconhecíveis sob um congestionamento de frases torturadas. A produção do quarteto de Coltrane entre 1960 e 1965 é um marco na história do jazz, comparável ao quinteto de Miles. As várias, longuíssimas e impressionantes versões de Coltrane para My Favorite Things, valsa aparentemente banal de Rodgers e Hammerstein, são antológicas. Em 1965 o quarteto cria aquela que é unanimemente considerada sua obra-prima, a suíte em quatro movimentos A Love Supreme.

Embora vindo do hard bop, o Coltrane de 1955 a 1965 já podia ser considerado em certo sentido um precursor do free jazz. Porém em 1965 sua ligação com a vanguarda se torna ainda mais direta, quando se une a músicos free como o baterista Rashied Ali, os saxtenoristas Archie Shepp e Pharoah Sanders, entre outros. Sua mulher, a pianista Alice Coltrane, também o acompanha nessa nova, arrojada e curta fase. O disco Ascension é uma obra-prima desse período, já desvinculado da harmonia tonal. Bastante religioso, Coltrane imprimiu às suas obras de 1965-1967 um forte conteúdo religioso e místico. Morreu repentina e prematuramente, em 1967, aos 40 anos, de câncer no fígado. Após sua morte, uma grande quantidade de gravações inéditas foi sendo localizada e lançada, permitindo ao público avaliar melhor o quão monumental é sua obra.
(Fonte: http://www.ejazz.com.br/detalhes-artistas.asp?cd=35)

A carreira de John Coltrane pode ser dividida em várias fases, mas a última, pós-gravação de "A Love Supreme" (1964), trouxe o instrumentista catártico, visceral e incontentável. A fome insaciável do saxofonista por novos vocabulários foi crucial para produção de álbuns exemplares como 'Ascension', 'Meditation', 'Living Space', 'Sun Ship', 'Stellar Regions', 'Expression' e 'Interstellar Space'.

Meditations

Escutando "A Love Supreme" (e perdendo o fôlego a cada vez que eu escuto), comecei a ler um pouco mais sobre este despertar espiritual de um artista q descobriu Deus de uma maneira bastante singular - criado cristão, acabou descobrindo um Deus universal (na capa do disco Meditations ele diz "Eu acredito em todas as religiões") e extremamente inspirador...
Depois de estudar sobre o islamismo, budismo, hinduismo e até mesmo cabala, Coltrane acabou deixando que os ritmos dessas religiões o influenciassem, e o próprio conceito budista e hindu de que a música é a melhor das orações...
Ele disse: "Durante o ano de 1957, eu experimentei, pela graça de Deus, um despertar espiritual o qual me guiou a uma rica, abundante e produtiva vida. Em gratidão, eu humildemente pedi que me fossem dados os meios e privilégios de fazer os outros felizes através da música."
Inspirado nestas religiões orientais, ele passou a lançar músicas religiosas mais de vanguarda em "Ascension", "Om" (cuja gravação de 29 minutos do mantra hindu contém cantos de Bagavadguitá, um épico desta religião) e "Meditations".
Em 1966, um repórter no Japão perguntou a Coltrane o que ele esperava ser dali a cinco anos, ao que o músico respondeu: "Um santo."
Escutando "Meditations", é impossível não sentir - senão uma elevação quase divina - a emoção de um artista em verdadeira comunhão com seu Deus....
Neste álbum de 1965, Coltrane escreveu sobre ajudar pessoas: "...Para inspirá-los a realizar mais e mais de suas capacidades para viverem vidas significativas. Porque esse é certamente o sentido da vida."

OLÉ

Fuçando atrás de algumas opções a batucada das escolas de samba q teimava em sair da televisão, acabei esbarrando em um blog maravilhoso, cheio de arquivos legais e comentários ainda mais espirituosos, do curitibano André Ramiro (http://pistoladagua.blogspot.com/).
Lá dei de cara com o disco "Olé" de Coltrane, e eu poderia falar algo, mas o texto de Ramiro já diz tudo:
"A primeira faixa possuía quase 20 minutos e os caras foram ultra-coesos do início ao fim. Não tinha descanso. Aquilo era rock n´roll sobre sapatos de jazzistas, com temas nada virtuosos. Era sentimento atrás de sentimento, mas com clareza e maestria. A música épica não cansou, só alimentava. Ouvimos o vinil completo, mas "olé" foi a faixa que bateu de verdade. Perfeito. Simplesmente perfeito."

Curiosidade
John Coltrane, além de tudo, virou santo padroeiro da St. John Will-I-Am Coltrane African, em São Francisco.
"Você é aquilo que você escuta", diz Franzo Wayne King, fundador e pastor desta comunidade de fiéis. "Quando você escuta John Coltrane, você se torna um discípulo do sagrado."
King parece ser uma pessoa que levou Coltrane ao pé da letra. Isso aconteceu a partir do momento em que conheceu a gravação de "My favorite things" e começou a se aprofundar e apreciar o trabalho mais antigo de Coltrane na banda de Miles Davis.
Pouco depois da morte de Coltrane, King criou uma pequena congregação chamada Yardbird Temple, em alusão ao apelido de outra fera do jazz, Charlie Parker, o Bird. Naquela altura, os fiéis cultuavam Coltrane como a encarnação terrena de Deus, ao mesmo tempo considerando Parker como um equivalente a João Batista.
Essa teologia, é claro, posicionou King e seu rebanho fora dos limites do cristianismo. Ele retornou a essa esfera no início dos anos 80, quando conheceu o arcebispo da Igreja Ortodoxa Africana, cujos adeptos cultuam um Jesus Cristo negro. King fez a concessão necessária para se tornar um membro. "Rebaixamos Coltrane do posto de Deus", diz. "Mas o acordo foi que ele poderia ficar na qualidade de santo e ser o padroeiro de nossa igreja."

Para Baixar

A Love Supreme
http://rapidshare.com/files/147570376/John_Coltrane_A_Love_Supreme.rar

Meditations
http://rapidshare.com/files/147785158/John_Coltrane_Meditations.rar

Olé
http://rs239.rapidshare.com/files/120851985/Ole.rar

E para a coleção completa...
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=6244330&tid=2465803504172728501&kw=crescent+coltrane&na=1&nst=1

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